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Incluindo-me em uma sociedade não real: a minha.

21 de Novembro de 2010.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"When you were young and your heart was an open book. You used to say live and let live (you know you did, you know you did, you know you did). But if this ever-changing world in which we live in, makes you give in and cry... so live and let die"

Foi nessa música, Live And Let Die, que eu percebi que naquele dia, 21 de Novembro de 2010, eu estava em mais um show histórico do Paul McCartney. Nada menos, nada mais que o quarto show dele no Brasil e a terceira passagem dele pelo mesmo. A primeira em 1990, a segunda em 1993 e a terceira agora em 2010, com direito a três shows dessa vez - um em Porto Alegre e os outros dois em São Paulo. 
Foi ela que me fez perceber aonde eu estava e a grandiosidade de ser uma das 64 mil pessoas presentes no Estádio do Morumbi naquela noite. Eu estava vendo um Beatle tocar, cantar e mostrar a todos a razão dele de viver: encantar a todos. E eu não acreditava no que estava vendo, eu mal tinha reação. Era muito para a minha cabeça e pro meu coração. 
Depois de tudo que passei pra conseguir ir e ser uma daquelas pessoas... a chegada da notícia que ele voltaria para o Brasil, as milhares noites tentando convencer os meus pais de que eu queria isso mais do que tudo, os choros, a compra dos ingressos, a ida para São Paulo, a perda de um vestibular, as noites mal dormidas idealizando o show, a felicidade, a confusão com os ingressos, a estada em São Paulo, as horas esperando e as dificuldades. Ah, as dificuldades... quantas apareceram e quantas me deram dores de cabeça. Todas que me fizeram perceber que quando você quer algo, a única pessoa que pode te ajudar e fazer seus sonhos se realizarem é você mesmo. Fazer o possível, o impossível, o real e o surreal é tudo por nossa conta. Mas eu não acreditava nisso, não mesmo. Só percebi o quão o poder da perseverança é extremo ao ouvir a voz de um dos meus quatro ídolos - e de uma boa parte da humanidade - ecoar pelos meus ouvidos ao vivo. Estando no mesmo lugar que eu! Era um sonho se realizando e meu peito se enchendo de felicidade e orgulho de perceber que eu consegui estar aonde eu queria estar e como eu queria estar.
Eu não precisava mais de nada naquela noite. Estava eu, a lua cheia, música boa e a genialidade e o talento de um dos maiores mitos do rock clássico. Sem contar no carisma e na humildade de um homem de 68 anos que tem tudo para se atrever a ser arrogante, mas não é. Está longe de ser! Seu sorriso e sua animação demonstram a juventude e a ingenuidade que ele mantém por tantos anos. Dá para ver o amor e a alegria em seus olhos. 
Achei que as horas esperando, umas sete no total, iriam ser desgastantes e cansativas, mas não. Tirando uma dor localizada nas costas que carrego até hoje, que nenhum "dorflex" da vida retira, até a espera foi perfeita - o clima era todo mágico. Pessoas de diferentes idades, classes sociais, cidades e estados, padrões de vida e valores juntas parecendo que eram todas iguais. Vi desde famosos como Zeca Camargo, Lenine, José Serra e tantos outros que vemos todos os dias nos jornais, revistas, programas de televisão e páginas da internet esbanjando os camarotes e os bastidores até uma Maria Ninguém, do bairro ao lado, e o Luis Anônimo, do mercadinho, que atravessaram o país e as dificuldades com os salários mínimos contados e que sofreram horrores para conseguir pagar um ingresso, mesmo sendo o que proporcionava um lugar distante do palco que quase nem daria para ver. Mas lá, todos eram iguais, eram parte dos 64 mil sonhadores. 
Enquanto o Paul nos presenteava com "All My Loving", uma música gravada em 1963 se não me engano, eu olhava o estádio e todas aquelas pessoas cantando com os pulmões uma canção que roda décadas e continua despertando a mesma reação em todos os que escutam: a de simplicidade, harmonia e delicadeza. Não sei se era pela iluminação instalada no estádio ou pela felicidade extrema de todos que tudo brilhava. Lá eu esqueci dos meus problemas, do calor que estava me matando há horas, das dificuldades, do cansaço, da fome, dos vestibulares que se aproximam e de todo mundo. Só ele e as músicas importavam. 
Gritei junto no refrão de "Jet", "Back To USSR", "Band On The Run", "Venus And Mars", "Get Back", "Helter Skelter", "Highway" e tantas outras. Me emocionei em "Let it Be", "Hey Jude" "Yesterday", "The Long and Winding Road",  "My Love", "Something", "Blackbird", "Here Today", "A Day in The Life/Give Peace a Chance" e, claro, "Live and Let Die". Ri das piadas, mesmo programadas, contadas pelo Paul e me diverti com "Drive My Car",  "Dance Tonight" e "I've Just Seen a Face", "Obla-di Obla-da" e do português ensaiado e engraçado dele. E cantei em todas, até as que eu sabia apenas o refrão. Tanto que no meio do show olhei para o meu pai, que estava do meu lado aproveitando o show igualmente, do jeito quieto dele, mas aproveitando, e só consegui dizer "obrigada por ter me apresentado desde pequena à melhor banda de todos os tempos". 
A banda que quebrou barreiras, inovou estilos, emociona todo mundo, escreveu as músicas mais tocadas de todos os tempos e mesmo dois deles já falecidos, continuam sendo lembrados por gerações e gerações... e lotando estádios. O gosto por Beatles passou pelo meu pai e chegou até mim e temos mais de 30 anos de diferença. E toda essa diferença sumiu na hora do show. Nós dois tinhamos a mesma idade. 
Acho que depois desse dia comecei a gostar e a admirar mais os quatro 'garotos' de Liverpool que dominaram o mundo - se for possível. Mesmo só tendo visto 25% do que um dia eles foram, já foi o suficiente para considerar aquele um dos melhores dias da minha vida. Nesse dia, eu voltei a um passado que não vivi e me senti em uma completa "beatlemania". Não estava mais em 2010 e sim em meados de 1960 aproveitando cada momento e histerismo de todos os presentes. 
Foi o suficiente para perceber o poder que a música tem nas pessoas: o de superar dificuldades, de nos unir e nos fazer feliz. A querida felicidade que todos buscam conseguir, eu consegui naquela noite. As três horas de show pareceram ao mesmo tempo minutos e décadas. Cada segundo foi especial, uma lição de vida. Nos mostrando o resultado de tantas esperanças e sonhos acumulados.  
É algo que com toda certeza irei lembrar no futuro e contar aos meus netos e para quem quiser escutar sobre o dia, no auge dos meus 17 anos, no dia 21 de Novembro de 2010, que eu senti o que era a felicidade, realizei um grande sonho e fiz parte de um dos shows históricos do Paul McCartney que lotou estádios e encantou multidões. E pode ter certeza que depois desse domingo à noite, nunca mais vou ser a mesma... 

1 pitaco(s).:

  1. Bill Falcão disse...:

    Querida Lê: eu, que sou da geração do seu pai, entendi perfeitamente a sua emoção ao estar presente a um show de um verdadeiro mito da música pop. Eu vivi a era da Beatlemania e tenho certeza de que você a reviveu plenamente naquela noite.
    Emocionante postagem! Ainda mais para um veterano beatlemaníaco como eu!
    Bjooo!!!

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